Dando uma volta em São Paulo


DANDO UMA VOLTA EM SÃO PAULO (CRÔNICA)


Galeria do Rock

Lembro como se fosse hoje, a minha tia recém chegada de Campinas, me chama para ir passear em São Paulo. Eu nunca tinha saído do ABC sem meus pais, pensei, deve ser uma experiência boa, resolvi ir, mesmo minha mãe me passando dezenas de recomendações. Fiquei com tanto medo, que andei boa parte do tempo com meu relógio dentro do bolso, achando que alguém poderia me roubar à qualquer momento e não desgrudava da minha tia, com um medo imenso de se perder.
Pior que isso, entrei no meu primeiro emprego e pediram para eu ir pagar umas contas também em São Paulo, quem disse que alguém me convenceu de ir.
O irônico disso tudo é que depois de muito tempo morrer de medo de andar em São Paulo, nunca eu ia imaginar que isso viria a ser um dos meus passeios prediletos nas manhãs de sábado.
Lembro que quando cheguei do passeio com a minha tia, com um rádio na mão que ela me deu, comprado na Galeria Pagé, minha mãe já nos esperava com um frango assado e eu comi aquilo, aliviado, pensando, nunca mais eu volto para esse lugar, mal eu sabia que eu voltaria inúmeras vezes...

Hoje uma das coisas que mais curto fazer é dar uma saída assim sem rumo, para São Paulo, seja para fotografar, seja para fazer compras na 25 de Março ou no Brás, ou seja para ir à Galeria do Rock. Aliás, a Galeria era parada obrigatória nas minhas sexta-feiras, quando eu trabalhava próximo ao Parque do Ibirapuera. Saia do trampo e já corria para a Galeria e ficava horas vendo as lojas de cds, pesquisando preço, conversando com algumas pessoas ou simplesmente batendo perna.

São Paulo é uma cidade aonde a cultura é vista em todos os cantos, em prédios para quem gosta de fotografia, como eu gosto, tem uma variedade como poucas cidades no mundo, quando o assunto é gastronomia e também não fica atrás de nenhuma grande cidade do mundo, no quesito balada mais ainda, enfim...

Quantos jovens na minha idade na época, não faziam o circuito, pegar o trem, ir para o centro, descer na São Bento, dar um rolê nas feirinhas, depois ia para a Galeria do Rock, ficava até umas 18hs, 18 e 30 e depois quando a galeria fechava, o destino era alguma balada, no caso de nós headbangers, várias baladas eram pontos de se bater cartão, vou citar algumas aqui que já fui e outras que meus amigos frequentavam: Led Slay (av. Celso Garcia), Fofinho Rock Bar, Hangar 110, Madame Satã (Barra Funda), Manifesto Bar, Blackmore Rock Bar (Moema) e tantos outros lugares que a cidade oferece.

O sentimento que tenho quando ando em São Paulo, é o sentimento de liberdade. Caminhar nas ruas muitas vezes sujas, cheias de camelôs, em alguns pontos cheias de mendigos, prostitutas, em boa parte cheia de policiais atentos à novas ocorrências, vendedores de lojas, ou simplesmente pessoas andando de lá para cá, não importa, passear nessa cidade é terapeutico para mim e me faz esquecer dos problemas. Eu sempre gostei muito de andar, de ver lojas, de ver novidades, conhecer lugares novos para mim, dentro do centro, explorar esse mundo, é muito legal e a sensação que temos é que sempre tudo acontece tão rápido e a variedade de coisas é tão grande, que nunca conseguimos ver tudo que queremos.

Esses dias, já depois de casado, foi com a minha esposa ao centro e resolvi subir no topo do prédio do Banespa. Ver a cidade lá de cima, nossa, é uma experiência muito interessante, recomendo e muito para quem quiser ter essa experiência. Aquela selva de pedra vista lá de cima, as pessoas parecem formiguinhas apressadas lá em baixo e os carros, ônibus e caminhões, mais parecem brinquedos de criança circulando naquelas famosas ruas e avenidas.

Quem nunca ouviu a música do Caetano Veloso, que cita a Ipiranga e Avenida São João. Ou quem nunca comeu uma feijoada no centro, observando aquela arquitetura antiga, Vale do Anhagabaú, local de muitos shows e manifestações.

Outro lugar que eu adorava passar, era o viaduto que corta a cidade, chamado Minhocão. Lembro que ainda criança, com meu irmão dentro do carro, ficava encantado ao ver aqueles prédios antigos e com meu pai guiando o carro, eu esperava ansiosamente ele passar em frente à antiga sede da Rede Globo, não pela emissora, mas porque eu já sabia que em alguns minutos o carro passaria em frente ao Palestra Itália, Que saudade desses passeios de domingo de manhã...

Outro lugar que eu não posso deixar de fora desse texto, é a 25 de Março e a primeira vez que fui até lá, eu fiquei realmente assustado. Nem nos dias de maior movimento no centro da minha cidade, no abc, eu nunca tinha visto algo perto do que vi em São Paulo. Pensei, meu Deus, daonde saí tanta gente...rss

Já passei alguns momentos de medo também em São Paulo, certa vez, indo com meus pais para um aniversário, nosso carro quebra bem no começo do Elevado Costa e Silva. Mal entramos em um táxi, já avistei pessoas descendo o viaduto, com os olhos para o carro do meu pai. No outro dia, quando meu pai foi buscar o carro com um amigo, o carro estava todo depenado, levaram o toca-fitas.
Sim, roubos, assaltos e violência em geral, você também encontra em São Paulo.
Outro momento de pavor, foi uma vez voltando da Led Slay, normalmente a casa virava a noite. E num dia específico, eles resolveram fechar a casa por volta das 2:30, 3 horas da manhã. O fato é que as pessoas que estavam comigo foram embora e eu fiquei sozinho no ponto de ônibus, na av. Celso Garcia. Todos os ônibus que passavam, não paravam. Viam eu, todo de preto, sozinho no ponto, não havia motorista que parasse. Até que um "abençoado" parou e me levou até o metrô mais próximo. Lembro que fiquei numa rua próxima ao metrô, mas ainda tive que fazer uma caminhada, porque o ônibus estava sendo recolhido para a garagem. Só quando entrei no metrô, que pude respirar aliviado.

São Paulo é perigosa e encantadora. Essa mistura do caos, com o belo, das pessoas andando apressadas, com o artista de rua, os carros, o agito que existe, tudo isso me fascina. É óbvio que se fosse mais cuidada, seria melhor, mas quase toda cidade grande tem suas ruas sujas, seus bueiros, seus mendigos, viadutos, barulho, movimento, prédios altos e carros aos montes. São Paulo não podia ser diferente.























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