O DIRETOR NÚ


O DIRETOR NÚ

O Diretor Nú

Desde o trailer, eu já tinha uma noção de que algo bom poderia ser apresentado, nessa nova série da Netflix. The Naked Director ou O Diretor Nú em português, de 2019, é uma produção japonesa, que estreou no Brasil no dia 8 de Agosto desse ano, na plataforma Netflix. A série conta a história do diretor de filmes pornográficos, Toru Muranishi, vivido pelo ator: Takayuki Yamada. Que de um simples vendedor, se tornou um dos homens responsáveis pela maior revolução da indústria de filme adulto no Japão.

Com seu inseparável amigo e sócio Toshi (Shinnosuke Mitsushima), ele começa bem de baixo, vendendo fitas com áudios de pessoas fazendo sexo, até passar por revistas e finalmente os filmes.

A série é baseada em eventos reais e a história foi montada de acordo com o livro de Nobuhiro Motohashi: Zenra Kantoku Muranishi Toru Den. Além de ter uma veia cômica muito gritante, tem bons momentos dramáticos também e ótimas atuações.

O Diretor Nú se passa no Japão dos anos 80. E logo no início vemos o contraste, ao conhecermos a vida de Toru Muranishi quando esse ainda é um mero vendedor de enciclopédias. Ele passa por um péssimo momento na carreira e é ameaçado pelo dono de uma empresa, de ser despedido, caso não melhor seus índices de vendas. E o pior, ele precisa para isso, vender enciclopédias em inglês, para japoneses!!!

Toru vive em uma casa simples, em Hokkaido com a mulher: Sachiko Muranishi (Ruri Shinato), com a mãe e dois filhos.

Toshi, Muranishi e Kawada

Ao ver o desespero de Toru, o dono da empresa dá uma última chance à ele e convoca o melhor vendedor do time para dar algumas dicas ao péssimo vendedor Toru. O colega de trabalho é daqueles tipos meio folgado, que mais tira um sarro do pobre Toru, do que o ajuda, mas de alguma forma, ele desperta algo que estava adormecido em Toru.

Depois de Toru melhorar as vendas significadamente, dois acontecimentos mudam completamente a sua vida, não vou dar spoilers, podem ficar sossegados.

A série mostra os altos e baixos da vida de Muranishi e de maneira divertida, que 8 episódios de aproximadamente 50 minutos passam, como se num piscar de olhos.

O que posso destacar é brilhante atuação principalmente da atriz: Misato Morita, que interpreta a jovem: Megumi (Kaoru Kuroki). Uma jovem decidida e que não pensa duas vezes em seguir o seu desejo, mesmo que para isso, tenha que entrar em conflito com sua família.

Shinnosuke Mitsushima também dá um show na pele do desajustado Toshi. Apesar do seu jeitão meio irresponsável, ele é extremamente fiel a Muranishi e ao longo da história, vai fazer verdadeiras loucuras para ajudar Muranishi em seus sonhos.

Toshi e Kawada

Outros atores que merecem destaque: Tetsuji Tamayama (Senhor Kawada), Ryo Ishibashi, vivendo o poderoso Ikesawa dono da Poseidon, além desses, temos a Sairi Itô que vive a engraçadíssima maquiadora Junko e Jun Kunimura, que vive o papel do Sr. Furuya (ex-integrante da máfia Yakuza).

Lily Franky

Tem um policial também que chega a ser irritante, Takei vivido por Lily Franky. Foto acima. Para quem for ver a série, vai cruzar muitas vezes com esse personagem. O ator consegue transmitir todo cinismo do personagem de maneira magistral. Quem assistir a série vai conseguir entender bem o que estou falando.

Misato Morita

Vale ressaltar aqui, toda a categorização daquele Japão dos anos 80. Vemos passagens nas cidades de Hokkaido, Sapporo até chegar na capital Tóquio. Vielas, ruas apertadas, carros, cidade cheia de letreiros, tudo isso vemos muitas vezes na série. Eu que sempre presto muito atenção nesse item, fiquei realmente encantado com a fotografia e todos os cenários de O Diretor Nú.

Ami Tomite como Naoko

Outra coisa que me chamou muito a atenção, é a relação dos japoneses com a pornografia. Em alguns momentos, vemos uma acentuada hipocrisia. Porque ao mesmo tempo que aqueles homens consumiam e muito produtos de pornografia, tratavam como marginais aquelas pessoas envolvidas em produções que não respeitavam a censura. Ou seja, se o cara visse um filme aonde aparecia uma tarja nas partes íntimas dos atores, ele respeitava esses atores, mas se descobrisse que tinha um filme sem a tarja, aqueles atores eram a escória da sociedade, mas muitos consumiam esses produtos também.

Muranishi com a sua inseparável câmera e o Sr. Hawada

Também vemos em O Diretor Nú, como qualquer segmento como esse, tem envolvimento de mafiosos e de pessoas muito poderosas, com até proteção da policia. A série entre de leve no submundo da prostituição e da escravidão sexual que algumas mulheres são obrigadas a participar. Podemos ver uma ou duas cenas, bem pesadas, tristes que dá uma pincelada no assunto, fica claro aqui que o diretor não quis ir mais a fundo no tema, mas ao mesmo tempo não deixou de tocar no assunto, o que ao meu ver, foi uma decisão acertadíssima!!!

As cenas de sexo, não são explícitas, mas são bem mais reais, do que a que costumamos ver em filmes e séries. Obviamente não tinha como fazer uma série falando de um diretor pornô, sem que se mostrasse algo e esse ponto me surpreendeu positivamente, pois o diretor da série, consegue balancear em cenas mais fortes, mas ao mesmo tempo sabemos que aquilo tem um contexto e que não está ali por acaso.

É até incomum para mim, ver mulheres japonesas nuas em cena e fazendo cenas de sexo, nos acostumamos a ver filmes norte-americanos e europeus, mas todas cenas são bem convincentes e algumas extremamente engraçadas. Muranishi, não tinha filtros e essa ânsia de querer fazer coisas cada vez mais diferentes, (não necessariamente sempre bizarras), fazia dele um diretor a frente do seu tempo.

Ruri Shinato que faz a esposa de Toru na série

Algumas críticas que li, criticaram e muito o episódio 6, aonde mostra a equipe de Toru viajando para os Estados Unidos, para gravarem o filme com uma estrela de filmes adultos norte-americanos. Muranishi nessa altura da história, queria expandir seu mercado, filmando na América.

Eu particularmente gostei, não achei que estava fora do contexto e achei que deu até um tcham a mais na série.
Jade Albany Pietrantonio a atriz norte-americana
Acima vemos uma imagem de uma cena em pleno ar, com a atriz Jade Albany Pietrantonio que interpreta a arrogante atriz decadente de filmes pornôs ianque Allison Mandy.

Outro ponto que devo ressaltar é a maneira como a equipe da série, lidou com os altos e baixos da vida de Toru. O ator foi fundamental para o sucesso da série, pois se aptou a cada momento vivido pelo seu personagem. E Toru passa por mals bocados, durante toda a história. É legal como torcemos por ele e como queremos que ele consiga êxito. Aquela frieza costumeira dos japoneses e a timidez, quase ficam de lado, se compararmos com a luta dele, pelo objetivo e a maneira humana como trata as pessoas, bem diferente do seu rival dono da empresa Poseidon. Toru gerencia a empresa Sapphire, um contraponto ao rival.

Ryu Ishibashi

A trilha sonora é um elemento a parte, temos música eletrônica, temos Amy Winehouse, Crowded House, entre outras bandas e músicos. Muito boa trilha, não comprometeu, mas eu nesse ponto, só colocaria músicas japonesas, talvez a intenção da equipe que dirigiu a série, foi querer ter uma empatia melhor do público internacional, ao colocar músicas conhecidas de artistas tão famosos.

Não podemos deixar de falar da equipe de filmagem, que vira uma família para Toru. A maquiadora Junko, Mitamura (Tokio Emoto), Takenori Gotô como o engraçadíssimo Rugby, fazem parte desse time. A química entre eles é maravilhosa e faz a série ficar ainda mais interessante.

Equipe da Sapphire!!!

Um personagem que gostei muito foi o vendedor da locadora. Que podemos ver na imagem abaixo:

Vendedor da locadora de filmes adultos

Um ponto de reflexão que fiz, é como vemos com preconceito todos que se envolvem no mundo da pornografia, mas ao mesmo tempo é difícil achar alguém que já não viu, ou que não consome pornografia. O ser-humano em si, agora não falo aqui só do povo japonês é hipócrita. Assim como existem os mafiosos, como existe qualquer tipo de profissão, existe também quem vive da pornografia e colocar essas pessoas como pessoas menores que aqueles que assistem, mas que não trabalham no ramo, faz a gente ser de alguma maneira preconceituoso. Obviamente que num primeiro momento, ninguém quer adentrar esse mundo, mas Toru entra de uma maneira tão natural, que depois que olhamos para trás, vemos que ele tinha quase que uma missão, para cumprir e cumpre ela de maneira muito efetiva.

A série também mexe com um tema que ainda é tabu na sociedade japonesa. O papel da mulher. As garotas nos anos 80, com certeza não tinham o espaço que possuem hoje, mas ainda hoje, o homem japonês, tem certos privilégios que as mulheres não possuem e vemos isso muito bem retratado na série.

A personagem Megumi em um programa de TV

Para finalizar, a lição que aprendi ao ver essa série, é que muitas vezes a persistência é o único caminho que se tem a seguir, quando se quer muito atingir a um objetivo principal. Toru tinha momentos de loucura, por ser tão determinado ao alcançar seus objetivos. Empreendedorismo misturado com audácia e muita coragem, fizeram dele, um homem de sucesso, mas não faltaram momentos em que muitos desistiriam da luta.

Hilário!!!

Mesmo nos momentos que achamos que ele está viajando na maionese, vemos ele tão decidido do que quer fazer, que embarcamos nessa loucura e acredito que muitos da equipe dele, pensaram justamente assim. Sabiam que o que ele queria era absurdo, mas ele era tão firme naquela ideia, que as pessoas confiavam nele e o respeitavam a ponto de fazer sacrifícios por ele. Isso é algo realmente, louvável.

Uma série divertida, chocante, bem dirigida, com bons momentos dramáticos, que levam o espectador a uma espécie de montanha russa de emoções. Gostei bastante e recomendo, só não vai assistir ao lado da sua avó!!!

Nota: 10

















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