PORQUE NO METAL NACIONAL AS BANDAS NÃO DURAM?

PORQUE NO METAL NACIONAL AS BANDAS NÃO DURAM?

Antiga formação do Sepultura

O metal nacional sempre viveu a sombra do Sepultura. É disparada a banda mais bem sucedida, de heavy metal no Brasil. O Angra, talvez, podemos dizer que foi a segunda mais bem sucedida. Mas uma pergunta sempre vem a calhar. Porque as bandas nacionais, não possuem vida longa, como algumas bandas gringas? Porque tantas mudanças de formação? Porque mesmo o Sepultura, não conseguiu se manter com a formação original e hoje, não tem os dois membros principais, fundadores da banda: Igor Cavalera e Max Cavalera? São muitas perguntas, que vamos tentar responder nesse post.

Primeiro temos que visitar as origens desse gênero musical aqui no Brasil, mas que possui grandes bandas no mundo todo. E outra coisa é tentarmos entender, porque as mudanças são tão grandes. Normalmente vemos bandas trocarem baixistas, guitarristas, mas quando você troca 3 membros, ou o vocalista, a mudança é maior.

A primeira banda com certo destaque, nesse gênero musical, no Brasil, vem do Belém do Pará. A banda Stress é uma das pioneiras no cenário do metal nacional. Rossevelt Bala, vocalista do Stress, disse certa vez que em 1975, não existia referência alguma no Brasil de música pesada, muito menos no Pará. Então quando raramente, eles descobriam alguém que conseguia algum disco de fora, todos tentavam entrar em contato com essa pessoa, para ouvirem esse disco juntos. Com influências de bandas como Rolling Stones, Sweet, E.L.P.,  Led Zeppelin, U.F.O., Black Sabbath, Deep Purple, entre outras, ele e outros garotos foram tomando gosto por esse tipo de som. Mas foi com o Judas Priest, que eles tiveram o estalo e sacaram o som que gostariam de fazer.

Stress
Em 1984, surge o Sepultura. A banda formada pelos irmãos Cavalera, até hoje é a banda de heavy metal brasileira mais bem sucedida em todo mundo.

Mas em 1996, os fãs levam o choque de saber que Max Cavalera deixaria a banda. Os outros integrantes da banda, em decisão conjunta, resolvem demitir Gloria Cavalera, mulher de Max, que era empresária da banda, alegando que ela estava dando mais atenção para o marido, do que para o resto da banda em si. Max se sentiu traído a ponto de decidir sair.

Sepultura com Igor e Max
Os outros 3 integrantes, ainda deram a opção de ela continuar cuidando apenas da carreira de Max, mas ele não quis. Max em pouco tempo forma o Soulfly. E o Sepultura segue em período turbulento, sem saber o que fazer.

Soufly

A banda fez audições e dentre vários vocalistas que fizeram o teste, até o Chuck Billy do Testament fez o teste, a banda resolveu escolher Derrick Green. Segundo alguns membros da banda, eles não queriam alguém igual ao Max, muito pelo contrário, queriam alguém que tivesse personalidade e estilo próprio. E gostaram muito do Derrick desde a primeira audição.

Segundo Andreas, Derrick se sentiu em casa no Brasil e até começou a torcer para o Palmeiras. Em 2006, Igor também decide sair da banda.

Em 1985, o Viper se apresenta para o público e teve bom momento, gravando até dvd no Japão. A banda que tinha os irmãos Passarel, tinha como formação: André Matos (vocais), Pit Passarel (baixo), Yves Passarel (guitarra), Felipe Machado (guitarra), Cássio Audi (bateria). Em 1989, por divergências com a banda e com a atenção voltada para a faculdade de música, André saí do Viper. Ricardo Bocci assume os vocais da banda em 2005. Em 2012, André Matos volta a banda que abre o show do KISS em São Paulo e no Rio.

Viper

E em 2013, eles tocam no Rock In Rio.

Em 1991, surge o Angra. André Matos já havia cantado no Viper e junto dele no Angra, estavam: Rafael Bittencourt e André Linhares, Luis Mariuti no baixo e na bateria Marco Antunes. André Linhares logo cedeu o lugar para André Hernandes e posteriormente, Kiko Loureiro. O Angra vendeu cerca de 5 milhões de álbuns em todo mundo.

Angra com André Matos

Em Março de 2000, o Angra passa por uma reformulação monstro. Saí da banda, André Matos, Ricardo Confessori e Luis Mariuti. Em 2001, o Angra aparece com Aquiles Priester na bateria, Edu Falaschi nos vocais, ele veio da banda Symbols, Felipe Andreoli no baixo, com Kiko Loureiro nas guitarras e Rafael Bittencourt também nas guitarras.

Aqui vale um adendo. A minha banda cover do Stratovarius, tocou em São Bernardo no dia que o Symbols ia tocar, mas havia cancelado o show. 

O Torture Squad surgiu em 1990. Com Cristiano Fusco nas guitarras e como fundador, Marcelo Fusco na bateria, a banda soma Marcelo Dirceu no baixo e voz.

Em 1993, a banda tem uma formação totalmente remodelada. Amilcar Cristófaro assume as baquetas, Castro assume o baixo, para os vocais Vitor Rodrigues, Fúlvio Pelli assume a guitarra base e Cristiano Fusco, na outra guitarra.

Nova formação do Torture Squad

Em 2002, Maurício Nogueira (ex-guitarrista da banda Krisiun), substituí Cristiano Fusco, que era o único membro original da banda. Com a formação estabilizada, a banda lança Pandemonium. E depois da turnê que a banda fez pela Europa, aonde tocou no Wacken Open Air, novas mudanças de formação.

Não pretendo detalhar todas as mudanças de formação de todas essas bandas. O objetivo aqui não é esse. O objetivo é entender, porque as bandas brasileiras, mudam tanto. Vemos bandas como o Metallica, que teve uma longa duração da sua formação James, Lars, Kirk e Jason. Tudo bem não é formação original, que já teve Cliff Burton e Dave Mustaine, mas o que quero levantar aqui, que as bandas gringas não mudam tanto como as daqui. Ou melhor, as bandas que constroem uma carreira mais sólida, são justamente aquelas que mesmo com algumas mudanças de formação, não perdem a identidade e mantem um grupo de músicos, por um tempo considerável.

O Manowar por exemplo, ficou anos com a formação que destaco a seguir: Eric Adams (vocais), Joey DeMaio (baixo), Karl Logan (guitarra) e Scott Columbus (bateria). E só mudou, depois que Scott morreu. Agora recentemente, devido às acusações de pedofilia, o guitarrista Karl Logan também deu um tempo na banda, que deu lugar para um guitarrista brasileiro E. V. Martel.

Um dos pontos que podemos analisar, para tantas mudanças é a questão da estrutura. Todas as bandas brasileiras, tiveram que suar muito para conseguirem algum destaque. Algumas bandas mineiras por exemplo, possuem uma certa mágoa com o Sepultura, podemos ver isso no documentário Ruído de Minas, aonde alguns membros dessas bandas, dizem que o Sepultura ao ser perguntado se existiam outras bandas de qualidade, como eles no Brasil, eles simplesmente disseram não.

Outro ponto além da estrutura, de uma grande gravadora acreditar, vejo a questão da desunião. Existem outras bandas nacionais que merecem destaque, como o Korzus por exemplo, ou o Sarcófago, a banda Wizards, entre outras. Mas o que destaco aqui é a questão de não sentir uma união entre os músicos. Quando alguém vai bem, o resto que se dane. Outra banda que lembrei agora e que também já passou por mudanças de formação é a ex-banda de Aquiles Priester, o Hangar. Que já teve o excelente vocalista Nando Fernandes.

Hangar

Fica a pergunta, será que o Angra poderia ter ido mais longe se tivesse um apoio maior de gravadoras e se a banda continuasse com André?

Wizards

Outro ponto importantíssimo é o porque que grandes empresários brasileiros, não costumam colocar bandas nacionais para tocarem com a mesma estrutura e status das bandas gringas. Já vimos bandas gringas tocando em palcos principais e as bandas nacionais, em um palco menor, com o som, mais baixo, além de outras espécies de boicotes.

Irônico saber que algumas dessas bandas, fizeram muito sucesso em outros países. Como já disse, o Viper é conhecido no Japão, o Angra também. Angra que também tem muitos fãs na França. E o que dizer do Shaaman? Que também teve o André nos vocais, mas que não sustentou o músico por muito tempo e também teve mudanças de formação.

Atualmente os irmãos Cavalera, fazem shows com o Cavalera Conspiracy. Tocando obviamente, muitos clássicos do Sepultura. Max já disse em entrevista, em outras palavras, que se arrependimento matasse, ele estaria morto. Decidiu abrir mão do nome da banda Sepultura, em momento de emoção.

Cavalera Conspiracy

Se formos vasculhar a vida de outras bandas nacionais, veremos histórias semelhantes. Por isso, acho que o metal nacional precisa refletir sobre essas questões. Em algumas ocasiões, sinto até um desrespeito como fã. Que vai no show, compra o cd, dá aquela força e depois as bandas se separam, sem se preocupar com o fã. Temos agora outra banda despontando, além do Krisiun, que tem feito muitos shows e já tem uma história conhecida lá fora, a banda Nervosa também tem tido boas críticas de seus trabalhos e shows agendados em diversos lugares do mundo.

Nervosa

Na opinião desse que vos escreve, o metal nacional, precisa mais de incentivo, de patrocínio, de maior destaque em shows, sem boicotes, o público precisa apoiar mais. Aqui, como show é muito caro, o headbanger prefere guardar uma grana para assistir 2 ou 3 shows gringos no ano, do que 10 bandas nacionais. Fui até bonzinho ao dizer 3 shows gringos, a grande maioria dos bangers brasileiros, nem conseguem ir em tantos shows assim. A carteirinha do estudante, eleva o preço dos shows e um show de uma banda grande, não saí por menos de 300 reais o ingresso para a pista.

Já o show das bandas nacionais, não são tão caros e mesmo assim, o apoio não é tão grande. Conheço muita gente que gosta de heavy metal e que ainda não conhece o Nervosa por exemplo. Ou nem sabia que exista o Torture Squad. As revistas especializadas, também precisam fazer a sua parte. Obviamente a questão financeira pesa. Ser membro de uma banda de heavy metal no Brasil, não é fácil, mas quando essas bandas ganham destaque, por n razões se separam com uma facilidade que realmente nos incomoda. Já pensou ver um Sepultura, novamente com Max e Igor?



Recentemente perdemos o grande André Matos. Agora, quando surgirá um cara do porte dele? Igual eu sei que não surgirá, mas com o talento e com a representatividade que ele tinha. Alguém para nos dar orgulho, para fazer novamente levantarmos a bandeira do metal.



Há alguns anos atrás, o Projeto Brasil Heavy Metal tentou fazer resgatar esse orgulho. Membros de diversas bandas gravaram uma música, que virou tema da campanha. O Brasil Metal Union também promoveu diversos shows de bandas nacionais. Temos excelentes bandas, mesmo em gêneros como o black metal, como por exemplo o Unearthly do Rio de Janeiro, temos também o Prophetic Age de Mauá-SP.

Algumas matérias também vieram na internet, resgatar a história do nosso metal, falando de bandas como Azul Limão, Salário Mínimo, Vírus, Centúrias, Santuário, entre outras. SP Metal, é outro projeto muito interessante, mas que infelizmente, não alcançou tanta gente, como gostaríamos.

SP Metal

Ficamos na esperança, de uma grande banda surgir e que principalmente, que essa banda chegue ao nível que o Sepultura chegou. É algo bem difícil, mas não é impossível de acontecer. Precisamos de estrutura, união entre os músicos, apoio dos fãs principalmente.











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