A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (1976) CRÍTICA


A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (1976) - Crítica do The Informetal



Horror, metal, hard rock e curiosidades, esse é o foco do The Informetal. É lógico que não falamos só do horror, falamos de outros gêneros cinematográficos mas sem sombra de dúvidas é o gênero que mais revisitamos aqui no blog. E hoje vamos falar de um filme que assisti quinta-feira agora, dia 31 de Maio, feriado de Corpus Christi. 

O filme é: A Estranha Hospedaria dos Prazeres, do mestre do horror brasileiro, José Mojica Marins e com roteiro de Rubens Francisco Lucchetti, direção de Marcelo Motta. Inclusive existe alguma desconfiança se esse filme teria sido mesmo finalizado por Marcelo Motta. Marcelo foi aprendiz dos muitos aprendizes de Zé, segundo o próprio Zé em entrevista ao Boca do Inferno, não teria sido concluído pelo Marcelo e sim pelo próprio Zé. 

Segundo ele, o Marcelo estava passando por problemas pessoais com a sua namorada na época e não tinha cabeça para fazer o restante do filme, por isso, José Mojica Marins (o nosso conhecido "Zé do Caixão") assumiu o filme da metade para o meio e teria finalizado o filme. Mas ele aparece como ator do filme também, interpretando uma espécie de homem das trevas que recebe hóspedes num hotelzinho de um lugar bem distante.

Antes de prosseguir, se você pretende ver o filme, essa crítica conterá spoilers.

Agora se você já viu, é legal ler a crítica e comparar a sua percepção com a nossa. Aliás, isso é uma das coisas mais legais que nós cinéfilos fazemos quando terminamos de ver o filme. Ler duas, ou três críticas de locais diferentes e comparar cada uma com o que pensamos do filme.

Bom vamos lá.

A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES

que meda!!!

O filme começa com uma dança interminável de algumas mulheres, aonde ouvimos uma música ao fundo e depois de longos minutos de movimentos repetitivos e cansativos, surge o personagem do Zé, saindo obviamente de um caixão, com efeitos de gelo seco e trilha sonora sinistra ao fundo.

Algumas figuras perturbadoras (como essa da imagem acima) surgem em meio esse momento, com máscaras e peitos artificiais, que muito provavelmente, eram fantasias de carnaval e que o Zé com seu baixo orçamento de sempre, decidiu usar no filme.

Logo depois dessa primeira introdução, mais outra cena muito cansativa (e o que seria uma segunda introdução) e ao meu ver totalmente desnecessária. Podemos ver o que seria uma espécie de sistema solar com seus planetas e estrelas ou cosmos, aí vai da interpretação de cada um e Mojica com dublagem faz um longo prefácio que não tem muito sentido e que faz a gente pensar que o filme nunca vai começar.

mulheres seminuas dançam
Depois de quase 15 minutos de muita enrolação, finalmente começa o filme com o personagem do Zé recrutando algumas pessoas para trabalhar no tal hotel (ou hospedaria) como preferir. Vale lembrar que a introdução com o nome dos autores do filme, pouco antes dessa cena, é algo muito criativo e bem a cara do Zé. Mostra o nome dos atores em meio a lápides de um cemitério, com cores diferentes, achei o efeito bem interessante. Simples e interessante.

 
nomes dos atores


Começamos a ter uma ideia do rumo que o filme vai tomar, quando o tal empregador (personagem do nosso querido Mojica) faz uma seleção de algumas pessoas que esperam ansiosamente pela vaga de emprego em frente ao tal hotel.

Ele escolhe apenas dois. Uma senhora e um cara que é a cara do Odair José cantor...rsss

Na hora de partirem, eles pensam em desistir, mas voltam a atrás e seguem o seu novo chefe.

Chegando ao hotel, eles já começam a trabalhar. Estranhamente, um hotelzinho de beira de estrada, que normalmente não hospeda quase ninguém começa receber muitas pessoas. Primeiro é um casal, que estranha o local num primeiro momento, mas devido ao perigo de uma chuva forte que se anuncia, decidem por ficar no hotel. Depois vão chegando mais pessoas. Um cara que aparenta ser um suicida perturbado, alguns empresários, (homens de negócios), um grupo de hippies, bandidos que acabaram de assaltar um banco entre outros personagens.



Destaque para um casal de uma mulher bem mais velha com um homem mais novo, que a trata muito mal.

Mas quem começa a dar tom ao nome do filme é o primeiro casal. Vivido por Caçador Guerreiro e pela bela Maribeth Baumgarten que trabalhou em alguns filmes pornochanchadas, mas com pequenos papéis em como Cada um Dá o que Têm e Pesadelo Sexual de um Virgem. Aliás, ela tinha uma projeção talvez de virar uma estrela nacional, o que acabou não se concretizando e pelo que apurei, o filme que mais teve destaque em sua curta carreira, tenha sido mesmo A Estranha Hospedaria dos Prazeres
Tanto é que mesmo sendo muito bonita, não vemos o nome dela em destaque nos cartazes dos filmes que participou, como vemos abaixo:

cartaz do filme

cartaz do filme
Pois bem, esse casal começa a dar uns amassos e o homem chamado Leonardo fica um bom tempo beijando o pescoço da mulher Mirian (Maribeth Baumgarten). Nesse meio tempo vão chegando mais e mais gente.

Mirian e Leonardo

Os hippies em pouco tempo, começam uma orgia e a cada novo hóspede, o homem da recepção e aparente dono do estabelecimento vivido por Mojica, repete os dizeres que "todos são bem-vindos e que ele já os estava esperando".

As pessoas meio que não entendem qual é a daquele cara estranho, mas de alguma forma aceitam o seu jeitão esquisito e como estão precisando se hospedar no local, devido a grande chuva que estar por vir, acabam topando passar a noite no estabelecimento com a esperança de irem embora na manhã seguinte.

Os raios toda hora acusando a chuva que nunca vem, chega a ser irritante, mas pior que eles são os closes nos olhos de Mojica, são inúmeros, não consegui contar quantas vezes isso aconteceu...rss



Vale lembrar que Exorcismo Negro de 1974, Mojica possuía muito mais condição financeira e de elenco para trabalhar. Já nesse que estamos falando hoje, tudo é muito precário, por isso vemos uma preocupação do Zé em fazer tudo parecer um filme normal, mas a gente sabe que havia um esforço danado e muita criatividade do nosso querido mestre, para fazer o projeto acontecer, independentemente dos recursos que ele detinha.
 
Em um momento do filme, o personagem de Mojica diz: "-as emoções não fazem sentido" e mais para frente vamos entender o porque tudo aquilo, já não faz mai sentido.

E continuam a chegar hóspedes nesse hotel, nesssa sombria noite de Agosto, (uma sexta-feira 13 para variar). Jason adoraria participar desse filme, penso eu...rss

Chegam também jogadores de pôquer e uma coisa que chama atenção é o curto intervalo de tempo da chegada de cada novo hóspede. Até que um desses possíveis hóspedes não é aceito pelo personagem de Mojica. Ele demonstra ser um homem poderoso e diz que isso não vai ficar barato, o homem fica indignado por não poder se abrigar no hotelzinho durante a tempestade. Pega seu casaco com a ajuda do funcionário do hotel e dá linha.

Outra coisa que intriga o espectador é um relógio de parede que não tem ponteiros e que fica em um ponto visível logo na entrada da pessoa no estabelecimento.

Uma frase de Mojica, deixa a história ainda mais intrigante: "Sempre existirá vaga para quem voluntariamente ou involuntariamente for indicado à minha casa".

E o filme vai passando com imagens se alternando em cada quarto de cada grupo (vamos dizer assim) de hóspedes desse hotel macabro. O casal Leonardo e Mirian, continuam na pegação e depois de muitas cenas, o homem finalmente começa a transar com a sua mulher, os hippies tiram as roupas e com músicas aproveitadas de outros filmes do Zé, começam a gritar: Tá todo mundo nú, oba!!! e vemos repetidas cenas de nudez, principalmente de mulheres no que sugere uma suruba coletiva sem fim. 

Vemos outro prazer do homem, que se mostra na imagem da jogatina, aonde homens apostam dinheiro em um jogo num quarto com pouca luz e coloração vermelha. Vemos também o homem mais novo, discutindo ainda com a mulher mais velha, o homem agoniado que demonstra querer se matar, bandidos comemorando com joias nas mãos um assalto aparentemente bem sucedido, entre outras coisas. Até vemos os empregados metendo o pitaco na vida de alguns dos hóspedes.

jogatina

hippies
]
Um fato interessante que merece destaque é sabermos que o diretor Marcelo Motta, dirigiu filmes como Chapeuzinho Vermelho a Gula do Sexo e o Império do Sexo Explícito, isso depois de aparentemente ter sido dispensado pelo seu mestre José Mojica Marins. Segundo o que apurei, Mojica ficou irritado com a suposta falta de qualidade de Marcelo. Erros em cortes de cena, desperdício de material e para um cara que sempre soube muito bem o que fazer com pouco dinheiro, Marcelo não era um profissional que conseguia fazer o que Zé fazia, talvez por isso, encerraram a parceria profissional.

Marins por sua vez fez outros filmes com orçamento sofrível, como por exemplo: Inferno Carnal, Perversão, Mundo - Mercado do Sexo e Delírios de um Anormal.

Contra a sua vontade, isso todo mundo que viu a série protagonizada por Matheus Nachtergaele, Zé do Caixão sabe, fez Mojica por pressões do mercado e pela situação financeira sua, que se agravava a cada dia, fazendo ele dever para fornecedores, atores, etc ter que se entregar ao mundo do pornô. 

Série com Matheus Nachtergaele

E como Mojica sempre foi polêmico, no submundo dos filmes pornô da Boca do Lixo não poderia ser diferente. 

Ele fez filmes que chegam a ser mais assustadores que alguns de seus filmes de horror, como por exemplo: A Quinta Dimensão do Sexo e 48 horas de Sexo Alucinante, aliás se eu não estou enganado, nesse filme, morreu uma das atrizes. O filme foi considerado por muita gente do cinema, um dos filmes mais bizarros já feito no mundo, com até cenas envolvendo animais. José Mojica obviamente em diversas entrevistas já demonstrou total arrependimento por ter feito produções como essa. 



Dr. Frank na Clínica das Taras é outro filme que ficou sumido e que pouca gente viu. Depois disso, nosso cineasta teve que dar um tempo com os filmes e voltou só em 2006 com A Encarnação do Demônio, talvez um dos seus filmes mais bem produzidos e que mais custou dinheiro também.

Bom, mas vamos terminar essa crítica. O fato é que depois de muitas cenas, muitos closes nos olhos de Mojica, que nesse filme não é o Zé do Caixão e sim um outro personagem, que inclusive usa um chapéu e não uma cartola, descobrimos numa reviravolta que todos os hóspedes do hotel e os funcionários estavam mortos. Cenas explicando a morte de cada um deles são mostradas em maneira de mini-flashbacks e aí entendemos porque os nomes deles já constavam no livro do dono do hotel.

Por exemplo, os hippies morrem em acidente de motos e eles chegaram montados em motos, ao hotel. Mostra também a traição que o homem mais jovem praticou na mulher mais velha e ela indo para cima da amante. Outra morte explicada é a do suicida e também dos bandidos, que pelo que dá a entender, morreram no assalto ao banco. E todos percebem que seus relógios estão parados, só não percebem que os relógios pararam no momento em que cada um morreu, em cada situação diferente um dos outros.

No final do filme, a mulher que transava com o marido, Mirian, saí correndo nua em busca da luz (o que na minha interpretação significa que ela foi salva) e o marido fica no hotel gritando o nome da amada. Ou seja, ele não teve a mesma sorte...hehehehheh

Mirian ao lado do dono do hotel

Mostra também o homem que não se conformava com o fato de não ser aceito no hotel. Ele volta com a polícia mais se surpreende ao saber que aonde estava o hotel, agora existe um cemitério no local. Mostrando que aquele hotel, nada mais era do que uma espécie de porta de entrada para o inferno e aquela dança inicial das mulheres seminuas ao som de atabaques do monólogo do filme, nada mais era do que o purgatório.

Em suma, o filme tem momentos extremamente cansativos, desnecessários mas que são recompensados pela criatividade de Mojica, pelo trabalho de Motta e pela ideia que até aquele momento era algo relativamente novo.


Dizem que a essência desse filme teria saído de dois seriados de horror, muito antigos, o primeiro Além Muito Além que passou na TV Bandeirantes em 1967 e 1968 e O Estranho Mundo de Zé do Caixão que passou na TV Tupi em 1968.

dvd que mostra um compilado

Esse filme é a prova de que Marins sempre soube tirar leite de pedra. Muitos podem falar, -Nossa mais o efeitos são toscos!!!, outros podem rir das cenas, das falas dos atores, confesso que até eu que sou suspeito para falar do Zé, ri em algumas cenas, mas é inegável o talento desse cara. Imaginem fazer tudo o que o Zé fez, com poucos recursos, no período da censura dos militares (ditadura) e ainda com um gênero, que ninguém se arriscava a fazer, que é o caso do horror, que até hoje, ainda tem pouca repercussão em nosso país, que sempre deu mais valor para as novelas, para filmes pornochanchadas e filmes que retratam a miséria e o sofrimento dos mais pobres?

Minha nota do filme: 6.5

Porque apesar das cenas repetitivas e desnecessárias, o filme apresentou uma idéia inovadora para a época e mesmo com poucos recursos, consegue transpor o espectador para aquele mundo de prazeres mundanos, terror e no final, ainda nos dá uma lição de que uma hora a conta vem.

Espero que tenham gostado e fico aguardando os comentários de vocês.

Um grande abraço!!!

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